Empresário transforma alimentos que iam para o lixo em pratos da alta gastronomia
David Hertz é o criador do Refettorio Gastromotiva, projeto que mostra que desperdiçamos muita comida boa. Curitibano também dá cursos para pessoas de comunidades pobres trabalharem em restaurantes.
Para uma nova geração de empreendedores, os fins não justificam mais os meios. Ou seja, o lucro pelo lucro não importa mais. O pensamento desses empresários é que os negócios devem ganhar dinheiro, claro, mas trazendo algum benefício para a sociedade. Essas organizações são os chamados negócios de impacto social. E o Brasil, com tantos problemas, é um terreno particularmente fértil para esse tipo de empresa.
Um empreendedor com vontade de tornar o país – e o mundo – um lugar melhor foi destaque no PEGN Labs, evento para donos de bares e restaurantes organizado por Pequenas Empresas & Grandes Negócios e realizado na última segunda-feira (11/6). Ele é David Hertz, fundador da Gastromotiva, que reúne diversos projetos que têm o objetivo de causar impacto social por meio da alimentação.
Hertz nasceu em Curitiba. Quando mais jovem, viveu em países como Israel, Tailândia, Índia e Canadá. Aos 25 anos, mudou-se para São Paulo, onde começou a atuar na “gastronomia social”: criou o projeto Cozinheiro Cidadão, que tinha o objetivo de ensinar gastronomia para os jovens da comunidade do Jaguaré.
Em 2006, nascia, em São Paulo, a Gastromotiva. O projeto tem a missão de treinar pessoas em situação de vulnerabilidade social para trabalhar no mercado da alimentação. “Percebi que era complicado recrutar pessoas talentosas e comprometidas e que poderíamos capacitar profissionais de regiões mais carentes”, diz.
Seu trabalho à frente da Gastromotiva chamou a atenção de diversas entidades internacionais. Hertz fez projetos com organizações como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial e o Fórum de Jovens Líderes Globais (YGL), na sigla em inglês.
Em 2012, durante as Olimpíadas de Londres, Hertz ficou fascinado com o que viu no East End, na época uma das regiões mais pobres da cidade londrina. “Vi muita gente sendo capacitada para trabalhar nos Jogos. Naturalmente, o que essas pessoas aprenderam se tornou útil para o resto de suas vidas. Decidi que gostaria de deixar algum ‘legado olímpico’ também”, afirma. Esse “legado olímpico” fez com que East End se tornasse um “bairro da moda” de Londres.
Decidiu e conseguiu. Durante a Rio 2016, inaugurou com o chef italiano Massimo Bottura o Refettorio Gastromotiva, um restaurante que usa alimentos que seriam jogados no lixo para criar pratos de alta gastronomia.
O Refettorio não durou só até as Olimpíadas acabarem. O projeto continua até hoje. Os clientes são pessoas que, por barreiras econômicas e sociais, não conseguiriam frequentar um restaurante sofisticado. Além disso, o projeto oferece cursos de empreendedorismo e educação alimentar. Desde 2016,
Durante o PEGN Labs, Hertz disse, no entanto, que não foi fácil tirar o projeto do papel. “Na busca por empresas que bancassem o projeto, recebi 70 respostas negativas. Mas não desisti”, diz.
O primeiro “sim” veio do artista brasileiro Vik Muniz. Depois da ajuda de Muniz, mais negócios decidiram participar. Hoje, o Refettorio tem o apoio da Coca-Cola, do Carrefour, da Cargill e da Latam. “Só tem uma tristeza: não há nenhuma empresa genuinamente brasileira nos apoiando. Só multinacionais. O projeto é mais conhecido no exterior do que aqui”, diz.
Agora, a meta de Hertz é replicar o impacto de seus projetos em outros lugares do Brasil e do mundo. Segundo ele, essa expansão será facilitada pela crescente valorização de uma culinária que evita desperdícios ou usa alimentos que poderiam ir para o lixo. “Creio que, depois da popularização dos alimentos orgânicos, haverá um foco maior dos restaurantes na diminuição do desperdício”, afirma.
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