Carne e desmatamento: novo indicador monitora origem da carne bovina
Quais empresas conseguem garantir que a carne que compram e vendem – e que chega até os consumidores – não está associada a desmatamento da Amazônia em nenhuma etapa de produção? Para responder a essa pergunta, foi lançado o Radar Verde: um novo indicador, o primeiro de acesso público no Brasil, que avalia a efetividade das políticas de controle da cadeia de produção de frigoríficos e supermercados.
A carne bovina que chega em nosso prato tem grande chance de ser oriunda de fazendas associadas ao desmatamento na Amazônia. Isso porque, praticamente, metade do rebanho do Brasil está concentrado nos estados da Amazônia Legal. A pecuária é considerada o principal motor de desmatamento na região, pois o pasto cobre cerca de 90% da área total desmatada e mais de 90% dos novos desmatamentos são ilegais.
Cientes desta questão, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e o Instituto O Mundo Que Queremos (IOMQQ) desenvolveram o Radar Verde, uma ferramenta para avaliar se empresas de carne brasileiras têm um sistema de controle para evitar a destruição da floresta.
O levantamento será anual, sendo que o primeiro foi realizado em 2022. Nesta primeira experiência, 90 frigoríficos e 69 redes varejistas foram convidados a comprovar que suas políticas garantem que a carne que compram e vendem não está associada ao desmatamento na Amazônia. Apenas 5% das empresas aceitaram participar e nenhuma autorizou a divulgação de sua classificação final. O relatório completo do levantamento inédito pode ser lido aqui.
Radar Verde
Os critérios que compõem o Radar Verde são baseados em três pilares. O primeiro é a existência de uma política de compra responsável de gado ou carne. O segundo é a qualidade da política e seu potencial para contribuir para redução do desmatamento. O terceiro é a demonstração do nível de execução da política pela empresa.
“Mesmo que as empresas não consigam ter um controle total de seus fornecedores, o Radar Verde avalia o grau de esforço e a distância que elas estão de garantir o objetivo final, que é uma carne 100% livre de desmatamento”, afirma Ritaumaria Pereira, diretora-executiva do Imazon.
Carne na Amazônia
O Brasil é o segundo maior produtor mundial e o maior exportador de carne bovina. O país produz cerca de 15% de toda a carne bovina consumida globalmente. Estudos sugerem que a atividade pode funcionar como um dos motores do desmatamento na Amazônia. Um levantamento do Mapbiomas mostra que as áreas de pastagem triplicaram na Amazônia nos últimos 30 anos. Hoje, ocupam 13% do bioma. Quase metade do rebanho brasileiro (43%) está concentrado sobre a área da maior floresta tropical do planeta. Entre 1990 e 2020, o rebanho bovino na região cresceu 256%, enquanto no restante do país apenas 3%.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem cerca de 218 milhões de cabeças de gado. Pelo menos 93 milhões estão nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão. Do momento em que nasce até o abate e o processamento da carne, o boi passa por até quatro fazendas que podem estar contribuindo ou não para o desmatamento.
“É um direito do consumidor saber de que forma os fornecedores da carne evitam que a pecuária esteja ligada à destruição da floresta”, afirma Alexandre Mansur, diretor de projetos do O Mundo Que Queremos e um dos coordenadores do Radar Verde. “As empresas estão empenhadas em dizer que têm seus sistemas de controle. O Radar Verde avalia o que as empresas conseguem apresentar de comprovações independentes, a fim de garantir ao consumidor que ele pode comprar sem preocupações.”
ExpoMeat 2023
Para abordar sobre a importância de as empresas do setor serem transparentes e como a pecuária pode ser mais eficiente e menos danosa à floresta, o Radar Verde participará da 4ª edição da ExpoMeat, Feira Internacional para a Indústria de Processamento de Proteína Animal e Vegetal, que será realizada de 28 a 30 de março, no Distrito Anhembi, em São Paulo.
O Radar Verde estará no evento todos os dias com uma exposição no estande 112, próximo à praça de alimentação. Na quinta-feira (30/03), a partir das 16h, no auditório Vitorino D´Almas, o pesquisador do indicador e Mestre em Ciências Florestais pela Universidade Yale (EUA), Paulo Barreto, fará uma palestra com o tema: como aumentar a produtividade da pecuária sem desmatar a Amazônia. Além de Barreto, a sessão terá a presença do pecuarista Mauro Lúcio Costa, de Paragominas (PA), que contará como consegue produzir seis vezes mais carne preservando 80% da fazenda.
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