REDUÇÃO DE AGROTÓXICOS: AS NOVAS ALTERNATIVAS QUE USAM NOVAS TECNOLOGIAS
Visando atender a população, cada vez mais crescente, que opta por alimentos orgânicos que são fornecidos por pequenos produtores que não utilizam agrotóxicos em suas lavouras, muitas empresas estão pesquisando meios de “salvarem” suas plantações minimizando o uso de pesticidas e herbicidas com o apoio da tecnologia.
Na realidade, a tecnologia na agricultura vem sendo utilizada há séculos com o intuito de aumentar as produções agrícolas, sempre com a ideia de que “quanto mais melhor”. Mas a tecnologia do passado, que conseguia fazer com que uma grande quantidade de um determinado produto fosse produzido em larga escala, significava também uma maior utilização de insumos agrícolas, incluindo o consumo de água, fertilizantes, pesticidas, herbicidas e afins.
Porém, este modelo de agricultura de grande escala, felizmente, está sendo ameaçado pelo desenvolvimento de novas tecnologias. Desta vez, especificamente do grande desenvolvimento da robótica e de sensores que poderão favorecer os pequenos agricultores novamente, tornando a produção de culturas cada vez mais eficientes e sustentáveis, conforme explica o engenheiro de robótica George Kantor da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, Pensilvânia.
Em um seu artigo recentemente publicado na Nature, Kantor destaca que os engenheiros estão explorando a automação como forma de reduzir custos e aumentar a qualidade nas estufas de produção de frutas e vegetais. Também estão testando dispositivos e seletores robotizados para monitorar o crescimento dos vegetais, bem como conseguindo melhorias no monitoramento da qualidade do solo e das plantas para eliminar pragas e doenças, sem ter que correr para o uso indiscriminado de agrotóxicos.
Mas como isso é possível?
Algumas dessas tecnologias citadas acima já estão disponíveis, porém a maioria ainda está sendo testada por empresas de pesquisa. De acordo com outro engenheiro, Simon Blackmore da Harper Adams University em Newport, Reino Unido, a fabricação de robôs agrícolas vai contra os modelos de negócios dos fabricantes dos grandes maquinários que, bem por isso, não investem em robótica. Porém, na contramão destes, pesquisadores como Kantor e Blackmore têm planos para revolucionar a prática agrícola e, quem sabe, mudar a forma de se produzir alimentos de forma definitiva.
A primeira delas é um pouco contraditória no que diz respeito à troca de mão-de-obra humana por robótica, pois na Holanda, famosa pela eficiência de suas estufas de crescimento de frutas e vegetais, a colheita é feita de forma manual e essa prática é ainda a melhor maneira de se colher os frutos, segundo o engenheiro Eldert van Henten, da Universidade Wageningen, na Holanda.
Henten trabalha numa colhedora de pimenta-doce e seu desafio é fazer com que um software seja tão rápido e preciso na identificação da pimenta que está pronta para a colheita, sem que seja feito o corte do caule principal da planta.
Já o engenheiro agrícola Richard Green da Harper Adams University, desenvolveu um colhedor de morangos mais rápido que os humanos, o qual possui uma câmera RGB que permite colher um morango a cada dois segundos, sendo que os humanos colhem de 15 a 20 morangos por minuto.
Segundo Green, eles estão aprimorando a técnica para que seja possível colher dessa forma todos os tipos de vegetais com suas diversas formas de tamanhos e cores, algo muito complexo no caso dos tomates, por exemplo.
Além disso, outro fator que está sendo estudado é com relação ao tempo de colheita dos alimentos, pois se forem colhidos muito antes, podem demorar para que estejam prontos para comercialização e, se forem colhidos tarde demais, poderão ser descartados rapidamente devido ao tempo reduzido para armazenamento.
Essa outra questão está sendo aprimorada pela engenheira de precisão Manuela Zude-Sasse do Instituto Leibniz de Engenharia Agrícola e Bioeconomia em Potsdam, na Alemanha. Ela desenvolveu um aplicativo para smartphone que capta dados dos sensores colocados em frutas como maçãs e cerejas, os quais captam tamanho, textura e cores, enviando fotos para os smartphones dos seus produtores indicando que o produto está pronto para a colheita.
Segundo Zude, além da precisão, o produtor contará com uma colheita de melhor qualidade e menor custo.
Mas vamos direto ao assunto, pois você deve estar se perguntando:
E onde entra a redução de agrotóxicos nessa história toda?
Do ponto de vista tecnológico, como falamos de qualidade e precisão, entraremos num outro tópico apontado por esta e por uma outra pesquisa que menciona a utilização de robôs e drones para diminuir, ou quem sabe até exterminar, o uso de agrotóxicos detectando antecipadamente a existência de pragas e doenças nas plantações.
A ideia de reduzir o uso de agrotóxicos nas plantações vem sendo estudada há um bom tempo, pois em 1997 o engenheiro de robótica da Carnegie Mellon, Red Whittaker, desenvolveu um sistema automatizado para tratores e, hoje ele reconhece que o mercado exige alimentos com menos herbicidas, pesticidas e com maior qualidade.
Atualmente, drones com câmeras multiespectrais podem ser utilizados para sobrevoar as plantações, identificar pragas e coletar dados que podem indicar antecipadamente que alguma doença está prestes a se instalar. Essa tecnologia está sendo testada em alguns produtos como o sorgo (uma espécie de milho proveniente da África) e em biocombustíveis nos Estados Unidos.
Outra empresa de análise de dados agrícolas localizada em Boulder, Colorado, chamada Agribotix, fornece drones e softwares que usam imagens de infravermelhos para mapear a vegetação através de manchas que indicam se ela está saudável, se existem focos de doenças e se foram causados por pragas ou problemas de irrigação.
A intenção da Agribotix é aprimorar a técnica para que o software esteja apto a identificar e classificar culturas e ervas daninhas, alertando os agricultores dos pontos exatos que estão com estes problemas. Isso fará com que, além de eliminar pragas, haverá uma redução do uso de produtos agroquímicos, diminuindo o impacto na vida selvagem e reduzindo os custos.
Segundo Richard Green, além de detectar a praga, o drone também poderá depositar a quantidade necessária de pesticida no local exato da contaminação, com isso não haverá a necessidade de pulverizar toda a plantação, assim como é feito convencionalmente. É aqui que está o “pulo do gato”: redução drástica e fundamental do uso de agrotóxicos!
Segundo pesquisadores do Centro Australiano de Robótica de Campo da Universidade de Sydney, “a pulverização direta de legumes utilizou 0,1% do volume de herbicida usado na pulverização convencional”. O protótipo RIPPA (Robot for Intelligent Perception and Precision Application) dispensa uma microdose de líquido de pesticida e herbicida no foco da erva daninha.
O melhor ainda está por vir!
Além do RIPPA, que reduz o uso de agrotóxicos nas plantações, outro robô está sendo testado pelos cientistas da Harper Adams University, o qual eliminará completamente o uso de produtos químicos destruindo ervas daninhas com laser… Será?!
Segundo Simon Blackmore, “as câmeras identificam o ponto de crescimento da erva daninha e o nosso laser, que não é mais do que uma fonte de calor concentrada, aquece-a até 95ºC, de modo que a erva daninha morre ou fica adormecida”.
Essa prática beneficia não só as plantações, fazendo com que os produtores ofereçam alimentos mais saudáveis e livres de agrotóxicos, como também protege o solo, preservando sua forma, qualidade, umidade e quantidade de nutrientes. Isso porque estes robôs, em especial o RIPPA, faz também uma varredura da qualidade do solo e, com menos produtos químicos depositados neles, a agressão é mínima ou praticamente nula.
O mapeamento do solo permitirá ainda ter uma precisão com relação ao tipo de cultura que poderá ser plantada de acordo com as propriedades de cada tipo de solo, garantindo plantio, cultivo e colheita mais eficientes e promissores. Outra ideia é a de cultivar várias plantações em conjunto para que o uso de agrotóxicos seja minimizado e utilizado de forma mais inteligente.
Desvantagens
Assim como qualquer estudo, prática ou iniciativa, o uso de robôs nas plantações para reduzir a dispersão de agrotóxicos também pode trazer algumas desvantagens, como por exemplo, tirar a função de muitos trabalhadores que ainda dependem do trabalho em grandes plantações para sobreviverem.
Por isso, enquanto essa tecnologia crescente não domina a agricultura de vez, o ideal é ajudar pequenos produtores comprando produtos orgânicos deles ou até mesmo tornando-se um próprio produtor de legumes, verduras, frutas e vegetais orgânicos.
Parece enfadonho e “romantizado”, mas se queremos melhorar nossa saúde e garantir a saúde do nosso planeta, devemos pensar em consumir alimentos que nos fazem bem, livres de produtos químicos, mas que não prejudiquem o trabalho daqueles que vivem de sua produção para ganhar seu sustento.
Se a tecnologia for realmente acessível também aos pequenos produtores como diz o texto, então ela será bem aceita e poderá não ser considerada uma desvantagem no aspecto social, pelo contrário.
De qualquer forma, é interessante saber que as grandes empresas de tecnologia e de engenharia agrícolas estão preocupadas com questões econômicas sim, e por isso vêm buscando cada vez mais alternativas menos agressivas para a produção de alimentos, o que acaba favorecendo as áreas da saúde e do meio ambiente também.
O que falta agora é pensar no que fazer com o tanto de gente que será substituída pelas máquinas e pelos robôs inteligentes! Mas é como em tudo na vida: a inteligência artificial ameaça vir aí com toda a sua força, e precisamos tomar as rédeas deste avanço para não sermos escravizados por ela, ou acabar sendo substituídos por robôs. Bastaria usá-los ao nosso favor! É preciso planejamento!
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