Fertilizante a base de lodo de esgoto beneficia culturas no Cerrado
A aplicação de fertilizante orgânico produzido com lodo de esgotos, em culturas experimentais no Cerrado, em associação com nutrientes minerais, proporcionou ganho de 10,8% na produtividade da soja e 6,8% do milho, em relação às plantas que receberam adubação convencional.
A conclusão é da engenheira agrônoma Adrielle Rodrigues Prates, em pesquisa para a Faculdade de Engenharia da Unesp. O experimento com o fertilizante fornecido pela Tera Nutrição Vegetal foi desenvolvido no Setor de Produção Vegetal da Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão (FEPE) da Unesp, no município de Selvíria/MS.
A pesquisadora observou que, em solo de baixa fertilidade natural, o uso do composto orgânico proporciona melhorias aos atributos químicos, principalmente nos teores disponíveis de micronutrientes. Assim, favorece o adequado crescimento e desenvolvimento das culturas de soja e milho, aumentando a produtividade de grãos e reduzindo a quantidade de fertilizantes minerais aplicados.
“Desse modo, o uso desse adubo orgânico na agricultura poderá reduzir os custos com fertilizantes minerais, além de dar um destino sustentável ao lodo de esgoto”, enfatiza Adrielle.
Em sua dissertação, a engenheira agrônoma descreve ter utilizado no experimento o fertilizante orgânico Tera Base. Fernando Carvalho Oliveira, engenheiro agrônomo responsável técnico pelos fertilizantes da Tera Nutrição Vegetal, salienta que “ao investirmos em pesquisa, como neste caso, no qual cedemos o fertilizante orgânico para o experimento, contribuímos para a geração de conhecimento, a valorização da ciência, o fomento da reciclagem e seus benefícios ao meio ambiente e os ganhos da fertilização orgânica para o solo e as culturas agrícolas”.
Matérias-prima
O fertilizante no estudo foi obtido a partir da compostagem termofílica de resíduos urbanos. Sua principal matéria-prima, descreve a pesquisadora, é o lodo, cerca de 70% em massa, advindo do tratamento de esgotos sanitários em Jundiaí e municípios vizinhos, como Campinas, Valinhos, Várzea Paulista, Campo Limpo Paulista, Itatiba, Cabreúva, Itupeva e Rio Claro. Também entram no processo de compostagem lodos de sistemas de tratamento de águas residuárias geradas em agroindústrias, como cervejarias e fábricas de alimentos, restos de frutas, legumes e verduras, pré e pós-consumo, segregados na fonte e coletados de maneira diferenciada, sobras de produtos alimentícios industrializados e inservíveis.
Ganhos ambientais
Adrielle ressalta que “a elevada geração de resíduos tornou-se uma das principais preocupações mundiais, já que o manuseio, o armazenamento e a disposição final desses produtos podem gerar problemas ambientais e riscos à saúde humana”.
Segundo a pesquisadora, alguns desses materiais podem proporcionar benefícios quando utilizados de modo adequado e seguro. É o caso do resíduo orgânico oriundo do tratamento de esgoto, que se destaca por possuir quantidades consideráveis de alguns nutrientes de plantas e matéria orgânica, podendo ser utilizado como fertilizante e/ou condicionador em solos agrícolas.
A reciclagem dos resíduos biológicos por meio da utilização agronômica, frisa a pesquisadora, apresenta-se como tendência mundial. Países como Irlanda, Dinamarca, Portugal, Espanha, Estados Unidos e França destinam mais de 50% do lodo produzido no aproveitamento agrícola.
Assim, a Resolução Conama 375/06 (Conselho Nacional do Meio Ambiente — 2006), que normaliza o uso agrícola de lodos de esgoto no Brasil, considera o seu uso uma alternativa sustentável quando comparada a outras práticas. Adrielle relata, ainda, que diversas pesquisas já demostraram os efeitos positivos em solos agrícolas que receberam aplicação do lodo de esgoto.
“O resíduo tornou-se ótima alternativa na recuperação de áreas degradadas, promovendo melhorarias nos atributos químicos do solo, em especial, no aumento de nutrientes e matéria orgânica”, conclui a pesquisadora.
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